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Os desafios do sindicalismo na área privada

Como se desenvolveu a atividade dos sindicatos no Brasil sob a perspectiva das relações de trabalho no setor privado? Quais os desafios e dificuldades na negociação coletiva e na ação sindical? Para responder a estas e outras questões, o supervisor no Rio Grande do Sul do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Ricardo Franzoi, apresentou um conjunto de motivos históricos e estruturais da economia e da política brasileira no painel Sindicalismo no Setor Privado, no Ciclo de Debates 2013 – Sindicatos no Século XXI – ocorrido na noite da última quinta-feira, 31 de outubro, no auditório do Sindicato dos Bancários no Centro de Porto Alegre.

 

O painel contou também com as participações de Juberlei Bacelo (Bancários/Fetrafi) e Marcos Führ (Sinpro/RS), como debatedores. O Ciclo de Debates é uma realização do escritório Paese, Ferreira e Advogados Associados em parceria com Castro, Osório, Pedrassani, Advogados, Rogério Viola Coelho Advogados, Antônio Vicente Martins Advogados Associados e do site Democracia e Mundo do Trabalho em Debate.

 

Nesta etapa do evento, dedicada ao Sindicalismo na área Privada, Franzoi destacou alguns pontos: a evolução da economia nos últimos 30 anos; o papel do sindicato em uma economia capitalista; a estrutura da negociação e quais os principais desafios para entidades e trabalhadores organizados de forma coletiva. “A atividade sindical acompanha as transformações políticas e econômicas do país. Quando cheguei ao Dieese, nos anos 80, a inflação era de 50% ao ano, na década de 90 chegou a 5000% e, depois da estabilização da moeda, obter um reajuste de 5% era uma grande vitória. A queda da inflação mudou tudo e deixou muito mais clara a realidade do trabalho no Brasil”, disse Franzói.

 

O supervisor do Dieese no Rio Grande do Sul lembrou que um dos desafios dos sindicatos tão logo houve a chamada estabilização da economia brasileira foi o combate ao desemprego, que atingiu a todos os setores produtivos. “Além de salários defasados era preciso combater o desemprego que em 1998 na Região Metropolitana de Porto Alegre chegou a 22%. Hoje a taxa gira entre 6% e 7%”, destacou.Na última década, assinalou Franzói, se viveu no Brasil um período de baixa inflação, de baixo desemprego e de crescimento econômico com aumento real de salário. “Este processo positivo para a sociedade impôs uma nova complexidade para as negociações. As relações entre empregador e empregados precisaram ser ajustadas”.

 

Franzói criticou a unicidade sindical que limita a um sindicato por categoria e por município e o Imposto sindical como forma de financiamento das entidades dos trabalhadores. “A combinação destes fatores faz com que o Brasil tenha mais de 12 mil sindicatos que gera fragmentação e uma negociação muito pulverizada que acaba por prejudicar a classe trabalhadora”. Sobre os desafios dos sindicatos, Franzói fez uma lista de pontos que ele considera fundamentais: uma ação conjunta para enfrentar o parlamento e os diferentes governos; preparar quadros especialmente para os processos de negociação; investir na organização do local de trabalho e na articulação dos trabalhadores em redes; investir em compromissos setoriais e nacionais para homogeneizar as relações de trabalho; se mobilizar em torno dos grandes temas como terceirização e redução da jornada de trabalho; segurança e saúde do trabalhador que se refletem na intensidade das jornadas; a alta rotatividade, especialmente nos baixos salários e como incorporar mais trabalhadores ao mercado de trabalho.

 

Franzói também destacou a desindexação da economia e investimentos na educação. “Precisamos também debater as regras para a distribuição de renda. A política do salário mínimo e do Programa Bolsa Família que ajudam a melhorar a renda, mas que hoje estão atrelados ao atual governo e que precisam se tornar um processo permanente. É preciso olhar este conjunto de desafios para aproveitar bem o momento que se aproxima rapidamente que é o da sociedade brasileira com proporção   de pessoas economicamente ativas, entre 15 e 64 anos. Se não conseguirmos fazer isto nos próximos 10 ou 15 anos, dificilmente teremos uma outra oportunidade como esta”, concluiu Franzói.

 

Marcos Führ do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS), por sua vez, destacou as dificuldades que sua categoria enfrenta. Ele lembrou que questões como atividades extraclasse ainda não são remuneradas e representa uma antiga reivindicação dos professores. “A sociedade brasileira não evoluiu ainda para uma valorização adequada da atividade docente. Se os governos não valorizam o professor é porque de alguma forma a sociedade permite. E isto é um desafio que devemos perseguir e mudar”, observou ele.

 

Para Juberlei Bacelo, representante da categoria dos bancários, o movimento sindical necessita de uma reflexão profunda com vistas a encontrar alternativas para os cenários que se apresentam no horizonte dos trabalhadores. Para ele está entre as prioridades do sindicato a capacidade de mobilização dos trabalhadores para transformar a sociedade. “É função prioritária dos sindicatos elevar a consciência de classe de seus representados. Neste sentido a consciência de classe dá força aos trabalhadores e abre perspectiva para uma sociedade mais justa. O capital, por sua vez, tem plena consciência de classe, tem unidade e por isto eles têm muita força. E a correlação de forças é o que define o resultado de uma campanha salarial, como serão as condições de trabalho, os direitos e as tuas conquistas”, enfatizou Bacelo.

 

O Ciclo de Debates tem o apoio da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição, da Associação dos Servidores da Ufrgs, do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Sindiágua, Sindicato dos Radialistas do RS, Sindicato dos Farmacêuticos do RS, Sindicato dos Servidores Públicos do RS, Sindicato dos Servidores do Ministério da Fazenda, Sindicato dos Servidores Federais da Saúde, Trabalho e Previdência no RS e Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no RS.