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Centrais sindicais "queimam pato" em protesto contra retirada de direitos em frente à Fiergs
Centenas de representantes de entidades sindicais se reuniram desde o início da manhã desta terça-feira (16), em frente à sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), localizada na Av. Assis Brasil, para protestar contra as reformas trabalhista e previdenciária defendidas pelos empresários, pelo governo interino de Michel Temer (PMDB) e em tramitação no Congresso Nacional. O ato, que foi marcado pela união das sete principais centrais sindicais do país, foi encerrado simbolicamente com a “queima do pato”, em alusão à campanha promovida pela federação paulista das indústrias, a Fiesp, no período que antecedeu a votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. A ação, que ocorreu simultaneamente em diversas capitais do Brasil, marcou o Dia Nacional de Luta em Defesa da CLT, dos Direitos Trabalhistas e da Previdência Social.
Com a participação de representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), da Força Sindical, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), da CSP-Conlutas e de diversas categorias, o ato teve início por volta das 7h. Por mais de duas horas, enquanto as lideranças sindicais falavam no caminhão de som posicionado em frente à entrada da Fiergs, manifestantes alternaram momentos de bloqueio parcial e total da Assis Brasil (sentido Cachoeirinha). Por volta das 9h30, o ato foi encerrado com a queima de um pato de papelão.
“Os setores empresariais fizeram uma grande campanha nacional em cima dessa questão do pato, dizendo que eles não iriam pagar o pato. Nós estamos dizendo que não vai ser a classe trabalhadora que vai pagar o pato. Nós estamos aqui queimando o pato na frente deles como símbolo da luta da classe trabalhadora, que não vai aceitar retrocessos”, disse Guiomar Vidor, presidente da CTB-RS.
Os sindicalistas listam como possíveis ataques aos direitos trabalhistas as flexibilizações da jornada de trabalho, do 13º salário e do direito a férias, do pagamento da multa sobre o FGTS no caso de demissões, do pagamento de horas extras, entre outros. “Seria um retrocesso que nos levaria ao final do século retrasado ou ao início do século passado em termos de relações do trabalho”, diz Guiomar Vidor, acrescentando que acredita que o governo e classe empresarial quer “privatizar a CLT e a legislação trabalhista”.
“Hoje, a CLT e a legislação trabalhista são um instrumento do estado de proteção social que regula as relações de trabalho no Brasil. É um patamar mínimo que tem que ser respeitado e o que pode ser negociado são garantias superiores a essas que estão na CLT. O que o governo e os empresários querem? Querem acabar com essa garantia mínima, que ela possa ser negociada entre as partes, como se nós vivêssemos numa sociedade de igualdade, em que não houvesse uma discrepância tão grande como temos hoje nas relações de trabalho. É mais ou menos como colocar uma raposa cuidar das galinhas dentro do próprio galinheiro”, avalia.
Em sua fala, o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, salientou que Michel Temer “jamais se elegeria” se apresentasse nas eleições as propostas que estão sendo discutidas agora. “Nós estamos em todo o Brasil denunciando os reais objetivos desse golpe que está em curso no Brasil, que é contra os direitos sociais, previdenciários e trabalhistas”, disse. “Eles não tem nenhum pudor. A caneta está nas mãos de um golpista que está disposto a assinar qualquer lei que esse Congresso de ampla maioria empresarial aprove. Então, não teria outro lugar mais adequado do que em frente a Fiergs, as entidades que financiaram o golpe e agora exigem o atendimento de sua pauta. E a pauta é o fim da CLT e dos direitos trabalhistas”.
As centrais sindicais fizeram a defesa da construção de uma greve geral em nível nacional, que deve ser convocada para o mês de setembro. No entanto, Nespolo pondera que uma greve geral só poderá ter efeito se tiver grande adesão dos trabalhadores e não for realizada apenas pela “vanguarda sindical”. Para isso, ele defende que é preciso mobilizar e conscientizar a população. “Essa agenda só vai funcionar se a gente conseguir desalienar a classe trabalhadora, que ainda está impactada pela manipulação da grande mídia”, afirmou.
Para a presidente do Centro de Professores do Estado (Cpers), Helenir Schurer Aguiar, a união das centrais sindicais representa um “momento histórico” e é um passo necessário para a “conscientização dos trabalhadores” para tentar barrar os ataques aos direitos trabalhistas, à reforma da previdência e as propostas de privatização a nível federal e estadual.
Reforma previdenciária
Helenir elencou como o principal ataque aos trabalhadores a possibilidade de aprovação de uma reforma previdenciária que estipule a idade mínima para aposentadoria em 70 anos e acabe com a cláusula do tempo de serviço. “Quando os trabalhadores perceberem que há uma possibilidade de aumentar mais ainda o tempo para aposentadoria”, disse.
A professora também rebateu os argumentos usados pelas classes empresariais de que a reforma é necessária para modernizar a legislação e equiparar o Brasil aos movimentos que ocorrem em outros países. “Às vezes usam a França ou outro país para aumentar o tempo de aposentadoria. Se nós tivéssemos as mesmas condições de vida, a mesma idade para começar a trabalhar e o salário que temos na Europa, a gente poderia até discutir, mas aqui no Brasil a realidade é outra. Muitas vezes, os filhos dos trabalhadores já estão no mundo trabalho aos 14 anos. Tu trabalhar dos 14 aos 70 anos é sugar toda a vida do trabalhador e negar a ele o direito de tentar um momento de se aposentar e poder curtir a vida”, ponderou.
Vidor, da CTB-RS, também criticou as propostas de mudança nas regras da aposentadoria. “Instituir uma idade mínima de 65 a 70 anos para a aposentadoria significa acabar com a aposentadoria para a grande maioria dos brasileiros. Você vai se aposentar na hora da morte ou sequer vai se aposentar”, disse. “Os filhos da classe trabalhadora terão que contribuir durante 50 anos para ter direito a uma aposentadoria que sequer pretendem eles garantir o salário mínimo como meta mínima da aposentadoria, querem inclusive flexibilizar isso”, complementou.
Coordenadora da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetraf-RS), Cleonice Back afirmou que os trabalhadores do campo irão aderir às mobilizações, especialmente pela luta contra as mudanças na aposentadoria.
“Acho que é fundamental é a união do campo e da cidade na defesa dos direitos. Uma das coisas que mais preocupa quanto a agricultura familiar é a reforma da previdência, que impacta no dia a dia dos nossos agricultores familiares. A gente sabe que, se essa reforma tiver continuidade, muitos dos nossos agricultores, dos nossos jovens, vão deixar o campo para vir para a cidade, inclusive disputando emprego com os trabalhadores urbanos”, afirmou.
Cleonice salientou que os agricultores familiares já organizaram uma caravana pelo interior do estado para alertar a população e pela defesa da previdência. “Nós queremos permanecer no campo, mas, para isso, precisamos garantir esses direitos”, disse.
Em antecipação ao ato, a Fiergs colocou um banner na entrada da entidade fazendo a defesa das reformas com a argumentação de que é necessária para diminuir o desemprego. O banner foi ironizado pelo presidente da CUT, que salientou que não era preciso de banner uma vez que a grande imprensa já faria a divulgação da pauta da classe empresarial. Nespolo ainda disse que os empresários” se esconderam atrás das baionetas em 1964″ e, agora, “atrás da grande imprensa”.
Fonte: Sul21
Texto: Luís Eduardo Gomes
Fotos: Maia Rubim/Sul21
Data original de publicação: 16/08/2016
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