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Condição feminina gera reflexão em encontro promovido pelo escritório Paese, Ferreira e Advogados associados

Dependendo da etnia, do grau de escolaridade que possuam ou mesmo do grupo social e econômico a que pertençam, as mulheres são, em maior ou menor grau, discriminadas, no Brasil e no mundo. A avaliação foi feita pela advogada Marilinda Marques Fernandes e pela jornalista Sátira Pereira Machado que participaram na noite da última terça-feira (31) de um encontro no auditório do Escritório Paese, Ferreira e Advogados Associados.

As duas palestrantes, militantes de movimentos sociais e políticos, apontaram as imensas dificuldades que cercam as mulheres pobres, que, pela própria condição social, estão sujeitas a diferentes discriminações e às mais diversas formas de violência. “Embora as mulheres tenham conquistado direitos laborais e mesmo galgado mais poder na relação familiar, elas não vivem em condição de igualdade com os homens no Brasil e no mundo. Nós mulheres ainda estamos na luta por temas que foram bandeira do movimento feminista nos anos 60, 70 e 80 do século passado”. Como exemplo, Marilinda destacou a questão do aborto, ainda um tabu em muitas partes, salientando que mesmo os avanços já conquistados em alguns Estados (como Portugal e Espanha) estão sendo confrontados novamente por pressão religiosa e conservadora.

A advogada lembrou ainda que não existe igualdade econômica entre homens e mulheres. Segundo ela, estas seguem recebendo menos que os colegas do sexo masculino nas atividades que desempenham, ainda que seja em iguais condições de inteligência e esforço físico. “As mulheres portuguesas e espanholas, por exemplo, foram e são as primeiras  vítimas do processo de austeridade que se impôs na Europa. A maior parte dos desempregados são mulheres”, observa Marilinda.

Já a jornalista Sátira Pereira Machado, que trabalhou na Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (recentemente extinta pelo atual Governador), destacou que as dificuldades se tornam ainda maiores quando as mulheres são negras e pobres. “Aí há uma sobrecarga de preconceitos que produz um efeito social nefasto. Historicamente, ser negro em uma sociedade controlada por brancos produz este efeito que, muitas vezes, não é nem algo racional ou pensado, simplesmente está lá dentro de cada um de nós”, observa a jornalista.

Sátira Pereira Machado fez uma análise da condição dos negros na sociedade brasileira. Observou que o racismo no país sofreu adaptações muito particulares que se camuflaram em uma suposta democracia racial. “Já nos anos 50, os primeiros estudos mostravam claramente que, no Brasil, as pessoas de etnia negra tinham poucas chances de ascender socialmente. Ainda são poucos os negros nos ambientes de poder”, concluiu. Nesse sentido, destacou a importância das políticas de ações afirmativas voltadas à inclusão e o empoderamento da população negra.

A jornalista também relatou um pouco da sua experiência na Secretaria de Políticas para as Mulheres no Estado do Rio Grande do Sul e as suas estratégias voltadas a combater a violência de gênero. Salientou que o tema é trágico e demanda atuação muito específica, sendo alarmantes e inadmissíveis os índices de agressões sofridas por mulheres no estado e no país.

Houve uma rodada de debates com a participação do público, que levantou a questão das mutilações sofridas por meninas e meninos, em inúmeros países da África, da Ásia e do Oriente Médio. Ambas as palestrantes repudiaram veementemente a prática. Destacaram o seu caráter bárbaro e o seu propósito de, especialmente, controlar a sexualidade feminina. Também nos debates, foi refletida a importância da educação para a igualdade de gênero e os desafios em criar meninos e meninas livres de estereótipos.