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Cpers e Simpa fazem "enterro simbólico" dos governos Sartori e Marchezan

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Combinados, o Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul (Cpers) e o Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) já somam mais de 90 dias de greve. Nesta segunda (6), os dois sindicatos uniram forças em um ato conjunto que começou no Palácio Piratini e terminou diante da Prefeitura, com o “enterro simbólico” e queima do caixão que acompanhou toda a mobilização e representava os governos de José Ivo Sartori (PMDB) e Nelson Marchezan Júnior (PSDB). O ato, que teve como foco os problemas na educação municipal e estadual, também foi acompanhado por representações de movimentos estudantis.

Iniciado por volta das 9h, diante da sede do governo estadual, o ato teve o objetivo de denunciar os ataques a direitos dos servidores e o alinhamento das políticas nas três esferas governamentais, município, Estado e União. Parados desde o dia 5 de setembro, os professores estaduais estão analisando uma proposta do governo Sartori de acabar com o parcelamento dos salários a partir de 30 de dezembro de 2017, mas só em caso de adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal, que busca firmar um novo acordo de renegociação da dívida com a União, e de venda de ações do Banrisul. Presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer destacou em sua fala que não caberá ao sindicato chancelar as políticas de ajuste fiscal do governo.

Segundo Helenir, a greve só será encerrada quando o governo fizer uma proposta em que a categoria possa sair do movimento “minimamente com a cabeça erguida”. “Nós temos a questão do salário, nós temos a questão do 13º, mas também temos uma perda salarial de 21,85% [inflação acumulada no período em que os salários estão congelados]. Como o governo está trabalhando muito fortemente para fazer o ajuste fiscal e a renegociação da dívida com o governo federal, nós sabemos que isso significa o congelamento dos salários por seis anos. É impossível nós ficarmos mais seis anos perdendo a inflação e não termos nenhum reajuste. Queremos que o governo tenha esta clareza e a boa vontade de, se não for para atender agora o reajuste, estabelecer um calendário de reposição salarial”, afirmou.

Na tarde desta segunda-feira, o Cpers realiza assembleias regionais em todos os seus núcleos pelo Estado para avaliar a proposta apresentada pelo governo na semana passada e construir uma contraproposta a ser apresentada para continuar as negociações. O comando de greve do Cpers deve se reunir ainda hoje à noite. Helenir diz que a adesão da greve está sendo cíclica, tendo atingido 75% em seu auge e se mantendo em torno de 50%, com as principais escolas estaduais em paralisação. “Esperamos que o governo continue demonstrando a disposição de negociar e que amanhã a gente possa ter um dia produtivo para que possamos chegar ao final do impasse”, disse. A professora acrescenta que a recuperação dos dias parados deve entrar 2018 adentro, uma vez que já não teria
tempo hábil para recuperação ainda esse ano.

Paralisados desde 5 de outubro, servidores municipais fizeram do ato desta segunda uma manifestação contra os ataques à educação municipal que acusam a Prefeitura de estar promovendo. Após a saída do Piratini, eles pararam diante da Secretaria Municipal de Educação (Smed), onde deveriam entregar uma carta ao secretário Adriano Naves Brito, protestando contra a reorganização dos horários escolares promovidos no início do ano letivo, contra as ameaças de fechamento de turmas da educação de jovens e adultos (EJA) e fechamento de vagas na educação infantil, especialmente na Pica-Pau Amarelo, no Centro de Porto Alegre. Brito não recebeu a carta, entregue a assessores, mas foi alvo de vaias e várias músicas cantadas no ato, como: “Ô Adriano, que papelão, um professor acabando com a educação” e “Ô Adriano, seu vendilhão, vendendo livro que era doação”, uma referência a denúncia de que a banca da Prefeitura na Feira do Livro está comercializando livros que foram doados pela autora para a rede municipal.

“O nosso documento é de repúdio ao desmonte da política pública de educação que está acontecendo no município de Porto Alegre. O governo Marchezan está pensando que está de brincadeira com a classe trabalhadora, que já oferece muito para manter a estrutura da Prefeitura e agora ele está parcelando e quer reduzir salários em 50%”, disse Jonas Reis, diretor do Simpa. Ele afirma ainda que há um déficit de 200 professores na rede municipal e critica o corte no pagamento de horas extras dos monitores da educação infantil e até na merenda. “Tava dando meia banana de merenda nas escolas”, denunciou.

Jonas ainda afirma que a Prefeitura tem se recusado a avançar na principal reivindicação da categoria, que é a retirada de projetos que mudam as regras para o pagamento dos salários dos servidores, inclusive os da ativa, o que pode representar uma perda salarial de até 50%. No entanto, ele pondera que o sindicato vem mantendo o diálogo com a Câmara dos Vereadores para a derrota dos projetos encaminhados pelo governo Marchezan e que pode vir daí a resolução do impasse. “Lá a gente tem o entendimento coletivo de que os postos de saúde têm que voltar a abrir, de que o HPS tem que funcionar a todo o vapor, de que a saúde, a água e a escola tem que voltar a funcionar. Se o Executivo quer brincar de guerrinha com o funcionalismo, o funcionalismo não quer, nós queremos dialogar. Se ele parar de parcelar e retirar o pacote da Câmara, nós encerramos a greve, do contrário nós vamos continuar na rua, inclusive com os nossos camaradas do Estado”, disse, acrescentando que, nesta segunda, os servidores da Fazenda que trabalham com o atendimento ao público entraram em greve.

Presente no ato, a vereadora Fernanda Melchionna argumenta que a força da greve é um elemento necessário para pressionar a Câmara para derrubar os projetos. “Nós, primeiro, queríamos priorizar o DMAE, que é um projeto de alteração da Lei Orgânica, mas em função das regras de tramitação não pode ser priorizado. Na semana passada, o Dr. Thiago (DEM) pediu urgência no projeto da dedicação exclusiva. Nós vamos trabalhar para derrotar esse projeto e para isso a luta dos trabalhadores é fundamental, a greve, a pressão da sociedade, para que a gente consiga essa maioria na Câmara para rejeitar os PLs e defender a carreira dos servidores”, disse.

Durante todo o ato, servidores do município e do Estado carregaram um caixão de papelão que trazia os dizeres “Aqui jazem os governos Sartori e Marchezan”. Foram realizados três “enterros simbólicos”, com os sindicalistas no carro de som simulando uma oração com os dizeres, de forma lenta e em tom grave, “Fora Sartori, Fora Marchezan”. Depois dos “funerais” diante do Piratini, da Smed e no Paço Municipal, o caixão foi queimado diante da Prefeitura, encerrando assim o ato.

Fonte: Sul21
Texto: Luís Eduardo Gomes
Foto: Maia Rubims/Sul21