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Com 50 mil pessoas, ato encerra dia de Greve Geral e ‘aprova’ nova paralisação de dois dias

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O dia que começou em Porto Alegre com uma forte repressão da Brigada Militar aos manifestantes que tentavam bloquear as garagens de ônibus com piquetes terminou com uma enorme manifestação para marcar o dia nacional de Greve Geral pelas ruas do Centro e da Cidade Baixa. Para os organizadores, 50 mil pessoas participaram do ato marcado para iniciar na Esquina Democrática e que teve encerramento no Largo Zumbi dos Palmares. Ainda que “estimativas da organização” tenham o costume de inflar os números para cima, o ato desta sexta-feira (14) certamente contou com a participação de dezenas de milhares de pessoas.

Eram mulheres, homens, idosos, jovens, famílias com carrinhos com bebês, representantes de partidos, centrais sindicais e movimentos estudantis, ou apenas pessoas preocupadas com a reforma da Previdência e os cortes na educação. A primeira, a pauta oficial do ato. A segunda, pauta que se somou após as também extensas manifestações dos dias 15 e 30 de maio. À semelhança dos dois atos contra os cortes na educação, durante a tarde, milhares de pessoas começaram a se reunir diante do prédio da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para confeccionar bandeiras e faixas. Além da reforma e dos cortes, as reportagens publicadas pelo site The Intercept Brasil com conversas vazadas entre o ex-juiz e agora ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o procurador da República Deltan Dallagnol também estiverem presentes em diversos cartazes e falas, na concentração da Faced e, posteriormente, durante o ato.

Esse contingente iniciou uma caminhada por volta das 17h em direção à Esquina Democrática, onde também uma multidão estava começando a se formar. Quando os dois grupos se reuniram, por volta das 18h, a multidão se estendia por algumas quadras da Av. Borges de Medeiros, que teve todo o trânsito bloqueado na região central.

O ato reuniu milhares de estudantes e trabalhadores que seguiram em caminhada até o Largo Zumbi dos Palmares . Foto: Luiza Castro/Sul21

Se havia dúvida entre qual das manifestações de maio foi maior, é possível dizer, sem erro, que a caminhada desta sexta foi a maior do ano em Porto Alegre. Em determinado momento, a manifestação se estendia da Esquina Democrática até as proximidades do Largo Zumbi dos Palmares, onde estava prevista para ser encerrada. O caminhão de som, que contou com falas de representantes entidades sindicais e de partidos de esquerda e centro-esquerda, levou mais de uma hora para fazer o trajeto.

Em uma dessas falas, a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) destacou que as mudanças propostas pelo relator da reforma da Previdência, o deputado federal Samuel Moreria (PSDB-SP), não devem esfriar as mobilizações contra a reforma. Na quinta-feira (13), Moreira apresentou um texto na Comissão Especial da Câmara que trata da PEC 6 em que ele retira da proposta do governo Bolsonaro as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC), a possibilidade de implementação do sistema de capitalização e as alterações nas aposentadorias rurais, entre outras mudanças. “A reforma não foi suavizada. A luta continua”, disse Melchionna, que lembrou que, nesta sexta, completou-se quinzes meses do assassinato ainda não resolvido da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL).

Foto: Luiza Castro/Sul21

Na mesma linha da psolista, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) defendeu que os movimentos sociais precisam manter e ampliar as manifestações contra a reforma. “As mudanças que eles fizerem, foram em primeiro lugar uma conquista da mobilização e da pressão social, que terminou garantindo que três pedaços muito ruins da proposta que quer desestruturar a Previdência pública do País fossem deixadas de lado temporariamente. Eles retiraram temporariamente os rurais, a capitalização e o BPC. Se nós não demonstrarmos força para proteger os aposentados do Regime Geral de Previdência, os servidores públicos que estão sendo duramente atacados, nós não chegaremos a lugar nenhum. Essa unidade em torno da luta contra essa anti-reforma é uma unidade muito importante”, disse.

Ao longo do ato, em diversos momentos as falas no caminhão de som destacavam a violência com a qual a Brigada Militar reprimiu os manifestantes que montaram os piquetes durante a manhã. “Eu nunca vi brigadiano ir para cima de manifestantes, de mulheres, com espada”. Representante da CSP-Conlutas, Érico Correa ecoou o sentimento em sua fala no encerramento do ato, já no Largo Zumbi dos Palmares. “Quero saudar as companheiras que foram para as portas das garagens tomar espadadas dos brigadianos”, disse.

Foto: Luiza Castro/Sul21

Ao final do ato, os organizadores no carro de som convocaram uma votação simbólica para ver se os presentes aprovavam que a próxima paralisação nacional deveria ter dois dias em vez de um, o que foi prontamente aprovado pela maioria.

Claudir Nespolo, presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores (CUT-RS), uma das organizadoras do ato, estimou em 50 mil pessoas o número de presentes. “Para nós, indica para cima e sugere novos embates. Logo, logo, uma nova Greve Geral se eles insistirem com essa reforma”. Claudir, no entanto, diz que ainda é cedo para confirmar que uma nova paralisação nacional será marcada, bem como que eventualmente poderá ter dois dias de duração. “Nós vamos aguardar a avaliação das centrais a nível nacional. A luta é nacional e a orientação virá da reunião nacional das centrais”.

Foto: Luiza Castro/Sul21

O presidente da CUT-RS destacou ainda que não se pode confiar que o governo aceitou a retirada das mudanças no BPC e na aposentadoria rural e da capitalização da reforma, pois avalia que isso foi uma medida para enfraquecer a greve e que, quando a votação for a plenário, estes itens podem retornar à pauta. No fim, Claudir fez uma avaliação positiva do dia. “Quarenta e cinco milhões de trabalhadores, de forma direta ou indireta, não foram produzir. Até pode ser que a elite não assuma publicamente, mas eles sabem que a fábrica teve metade dos trabalhadores e isso não gira a fábrica. Eles perderam dinheiro hoje”.

Era pouco depois das 20h quando o caminhão de som deixou a região da Av. Loureiro da Silva, marcando o fim oficial do ato. Um grupo de manifestantes ainda permaneceu no local, o que motivou a Brigada Militar a iniciar uma negociação para liberação da via. Cerca de 50 pessoas ainda ocupavam uma das faixas da avenida até por volta das 21h, quando a polícia usou bombas de efeito moral para dispersá-las e encerrar de vez a mobilização.

Fonte: Sul21
Texto: Annie Castro e Luís Eduardo Gomes
Fotos: Luiza Castro/Sul21